ESTADO ESPANHOL | Aplausos não bastam. Todos os recursos à serviço de frear a epidemia!

Declaração de “Lucha Internacionalista” (Seção no Estado Espanhol da UIT-QI) – 30 de Março

A pandemia de COVID-19 continua se propagando em todo o mundo, superando o número de 700 mil contágios e 34 mil mortos. A Espanha oficialmente se aproxima a 86 mil contágios e passa de 7 mil  mortos, mas os dados reais são o dobro, segundo gente do Ministério da Saúde, já que só estão na conta os mortos e os que fizeram teste. Como já advertiam há algum tempo muitos especialistas, o sistema hospitalar de Madrid se saturou pela avalanche de pacientes em estado crítico.

Na Catalunha e no país Basco o mesmo deve acontecer nos próximos dias. O governo PSOE-UNIDAS-PODEMOS, para favorecer a patronal,  demorou três semanas para paralisar a atividade econômica não essencial. Oficialmente pediam para que todos ficassem em casa, com ameaças de multas, enquanto milhares de trabalhadores e trabalhadoras tinham que sair para trabalhar,  se expondo ao vírus de maneira desnecessária. Finalmente, Sánchez e Iglesias decidiram parar a atividade não essencial até o dia 9 de Abril, com licenças pagas que serão recuperadas, como se fossem férias.

Os governos, tanto de Madrid como da Catalunha, enchem a boca enaltecendo de forma hipócrita os trabalhadores da saúde, que estão fazendo um esforço heróico trabalhando para salvar vidas. Mas enfermeiras, auxiliares, médicos, administrativos, trabalhadores da limpeza, técnicos, cozinheiros, o pessoal da logística e manutenção dos hospitais não devem ser heróis: devem ter garantidos todos os meios materiais e humanos para trabalhar em uma situação de emergência. Hoje não é assim, por causa dos cortes na saúde pública (No CCAA de Madrid, se perderam até 2009, 2.300 leitos e 3500 trabalhadores; Na Catalunha, 2400 profissionais e 1100 leitos entre 2010 a 2017 – e os investimentos para 2020 ainda estão abaixo dos de 2010). Faltam condições nos hospitais também pela falta de planejamento dos governos para enfrentar uma pandemia, que se espalha pelo mundo há dois meses e meio.

Se existem mais de 10 mil trabalhadores da saúde infectados (São 8.8% dos que estão nas UTIs e seis já morreram) é porque eles não dispõem dos equipamentos de proteção necessários. As lágrimas de crocodilo do ministro Illa lamentando sobre o funcionamento do mercado mundial são palavras vazias, para não assumir responsabilidade. Não, os trabalhadores da saúde não devem ser heróis e este governo os enviou para a “guerra” de mãos vazias.

O número de mortes devem disparar nos próximos dias e semanas, muitas poderiam ser evitadas com um saúde pública mais forte, como ocorre na Alemanha (Que com 50.000 casos tem 325 mortos), e se tivesse tido mais capacidade de tratamento com a realização de testes. Há que se destinar todos os recursos econômicos, industriais e humanos para frear a epidemia. O escandalos dos testes rápidos defeituosos, que o governo espanhol comprou de uma empresa Chinesa sem homologação, custará muitas vidas.A experiência de outros países mostram que é central fazer testes massivos para frear o contágio, mas aqui os testes foram comprados tarde e mal comprados. Ter testes salvaria também muitas vidas nas residências de idosos.

A União Européia fez um acordo para salvar os bancos, as grandes multinacionais e os Estados com uma injeção de 750 bilhões de euros, mas é incapaz de fazer um plano solidário de emergência sanitária e os países competem entre sí por medicamentos e recursos.

Agora se faz necessário improvisar, porque as coisas não foram bem feitas. É urgente multiplicar a capacidade dos hospitais com novos leitos, reabrindo os andares fechados com mais funcionários, nacionalizando a saúde privada (Como foi feito na Irlanda). É inadmissível que muitos hospitais privados (na Catalunha são 69% do total e tem 56% dos leitos) ainda tenham leitos vazios enquanto a saúde pública está transbordada, tornando necessários hospitais de campanha. É um escândalo que enquanto a rede pública está fazendo chamadas a mobilizar aposentados e estudantes, nas rede privada se quis fazer um afastamento não remunerado de 28.200 profissionais  (O que só foi parado com um decreto no dia 27/03 que proibiu, por ser um serviço essencial). O critério do lucro segue prevalecendo em plena pandemia, por isso defendemos nacionalizar a rede privada, absorvendo os trabalhadores, dando-lhes estabilidade e complementando com as contratações que sejam necessárias.

Há que se intervir na indústria, para fabricar respiradores e prover materiais de proteção aos trabalhadores da saúde e de serviços sociais, que continuam dando atendimentos domésticos. Colocar os hotéis a serviço de abrigar casos leves para evitar o contágio na casa dessas pessoas, assim como colocar os hotéis disponíveis para o descanso dos trabalhadores que estão na primeira linha da saúde. Há que se nacionalizar a indústria farmacêutica e todos os laboratórios de pesquisa para encontrar um tratamento e a vacina o mais rápido possível. Em definitivo, há que se colocar as vidas na frente dos interesses capitalistas e nacionalizar os setores estratégicos, sob controle dos trabalhadores e trabalhadoras, de modo a assegurar que a vida seja a única prioridade.

A situação é particularmente grave nas casa de acolhimento de idoso, setor de risco mais vulnerável diante do vírus. Entre as infinitas denúncias de falta de recursos, se aponta que é um setor extremamente privatizado, precarizado e feminizado. Na Catalunha, os locais públicos não chegam a 10%, há falta de pessoal e em muitos casos falta espaço para garantir distância em caso de contágio. Somente há alguns dias o governo da Catalunha permitiu que as pessoas mais velhas não infectadas pudessem ir pras suas casas sem perder o direito ao asilo. Esse é um dos maiores problemas do país, sem dúvida.

O vírus não mata a todos igualmente

Ainda que se desconheça muitas coisas sobre a SARS-Cov2, o vírus que provoca a doença, já sabemos que afeta mais – além dos idosos e trabalhadores da saúde – o povo trabalhador. Não é por acaso que em Barcelona, o bairro de Roquetes (Nou Barris) seja o que mais tem infectados em relação a sua população, seguido por Trinitat Vella. Ambos são bairros operários. Enquanto em Sant Gevarsi – na zona nobre – é o bairro com menos casos por habitante.

A classe trabalhadora, com um estado de saúde prévio pior e condições de moradia mais difíceis, que complicam ou tornam impossível as medidas de distanciamento, é mais vulnerável. Ainda mais porque foi mais exposta, por ter sido obrigada a trabalhar e a maioria utiliza transporte público.

Os imigrantes são outro grupo vulnerável, com condições ainda piores. A imagens lamentáveis de acampamentos  de diaristas em Huelva reafirmam a urgência da regularização imediata dos que estão sem documentos, para que possam acessar o sistema de saúde, o trabalho formal e benefícios sobre desemprego e moradia, como foi feito parcialmente em Portugal.

Os espaços de confinamento para as pessoas sem teto devem garantir sua proteção assim como a dos profissionais dos serviços de saúde que os atendam. Para que seja assim, a melhor garantia são os espaços individuais, não salas comuns como está previsto pelas autoridades na Feira de Barcelona ou no IFEMA de Madrid.

Essas reivindicações de investimento no sistema de saúde público não são somente para o tempo que dure a epidemia. A luta por serviços públicos fortes não deve ter trégua

 

  • Todos os recursos para a saúde pública. Reabertura de andares fechados em hospitais, contratação de pessoal com estabilidade no emprego. Revogação nos cortes. Gestão sob controle dos trabalhadores e trabalhadoras. Material de proteção para todos trabalhadores expostos ao vírus.

  • Nacionalização da rede de saúde privada. Incorporação dos hospitais na saúde pública. Rede pública única

  • Titularidade pública e gestão direta dos serviços sociais

  • Comitês de saúde em todos os centros de trabalho de serviço essencial

  • Nacionalização e recursos para a pesquisa e laboratórios

  • Respostas de emergência sob responsabilidade dos profissionais do SEM, bombeiros e outros serviços de proteção civil, ao invés dos militares.

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