CHILE | Paralisação nacional já! Para impor a quarentena total

Editorial N°74 do jornal Opción Anticapitalista,  pulicação do
Movimiento Socialista de los Trabajadores (MST), seção Chilena da UIT-QI.
Tradução Lucas Andrade e Caio Sepúlveda

A epidemia do COVID-19 parou, de uma forma importante, a atividade econômica a nível mundial. As declarações do Banco Mundial e do FMI preveem a maior recessão desde a “grande depressão de 29”. Em meio ao desastre econômico em todo o mundo, muitos governos recusam a quarentena total com o argumento de que não se deve sacrificar a economia. Como sempre, os empresários escolhem sacrificar a classe trabalhadora para manter seus lucros. Piñera se nega a aplicar a quarentena, portanto nós trabalhadores e trabalhadoras devemos responder com uma greve geral, para que a crise econômica seja paga pelos patrões.

A classe trabalhadora está sendo forçada a pagar, com sua saúde e sua vida, pela estabilidade econômica.

Em um regime normal de atividade econômica, as possibilidades de contágio são de quase 95%; O sistema de transporte chega a ter dois milhões de usuários na “hora do rush”, somente em Santiago. O maior distribuidor do vírus é o sistema de transporte público lotado. Por outro lado, o comércio, mesmo restrito ao abastecimento essencial, reúne nos pontos de venda centenas de trabalhadores em contato direto com milhares de pessoas diariamente. Na indústria a situação não é melhor. A grande indústria e a mineração reúnem milhares de trabalhadores por local de trabalho. Inclusive, na mineração, os trabalhadores ficam uma boa parte do mês confinados em acampamentos por 24 horas, como na grande mineração do norte do país. A construção civil reúne uma grande quantidade de operários nas principais obras do país, como é o caso do novo aeroporto. A indústria frutífera aglomera em sua produção uma parte importante da mão de obra das comunas e regiões agrícolas, que tem nesses meses a maior parte de sua atividade, como no caso da indústria vinícola.

O lucro da patronal é pago com o perigo de contágio.

Por que ainda não há quarentena total? Piñera repete a cartilha que custou milhares de vida no mundo: não decretar as quarentenas até que as mortes e contaminações colapsem os sistemas de saúde, para atrasar o choque econômico. Esse governo brinca com o controle da pandemia e nega sua gravidade para salvar um modelo econômico onde menos de 10% da população fica com mais da metade da riqueza, enquanto mais de 70% dos salários estão abaixo dos 500 mil pesos¹ e a metade dessa porcentagem ganha o salário mínimo². A verdadeira saúde que preocupa Piñera é a dos grupos econômicos nacionais e multinacionais, dos bancos, da bolsa de valores, que tiveram quedas históricas em seus lucros e sua rentabilidade. Para manter os lucros astronômicos que tiveram nas últimas décadas, exigem não parar a atividade econômica, ao custo da curva de contágios seguir aumentando.

Querem que a crise seja paga pelas trabalhadoras e pelos trabalhadores, enquanto a atividade econômica segue.

Enquanto as companhias aéreas reduzem os salários à metade e exigem ajuda estatal; enquanto no comércio reduzem pessoal e não pagam salários, um cenário que se repete em todas as empresas; enquanto há um colapso com as filas na AFC³ para pedir o seguro desemprego e o desemprego dispara deixando famílias trabalhadoras na ruas, o governo lança um plano econômico a favor dos empresários. Colocando as PYMES⁴ como argumento – que dão quase 80% do emprego no país – nos impõem medidas de proteção ao emprego que vão desde ocupar nossos seguros desemprego até suspender o pagamento do salário, ao mesmo tempo em que se anunciam proteções estatais aos 40% mais pobres do país com benefícios miseráveis e renegociação de dívidas básicas. Nenhuma medida toca as grandes fortunas nem impõem medidas especiais às grandes empresas, que enriqueceram por décadas. A proteção do emprego não prevê a injeção de recursos às PYMES que não seja através de um crédito que aumenta o lucro dos bancos. A proteção estatal só serve para os grande grupos econômicos e as multinacionais.

Paralisação total para impor a quarentena, que a crise seja paga pelos patrões.

Para impor a quarentena total e que os salários continuem sendo pagos sem demissões, é necessário continuar a luta de 18 de outubro. Enquanto a classe trabalhadora seguir sendo obrigada a trabalhar, pagará com a sua vida e a de sua família pela riqueza dos empresários. É mais necessário do que nunca unir todos os sindicatos e federações e expulsar de sua direção os elementos traidores que fazem pactos com o governo, como é o caso da CUT⁵, para preparar a convocatória de uma paralisação nacional efetiva exigindo a quarentena total e um plano econômico de emergência.

[1] O peso chileno estava cotado, em 21/04/2020, a aproximadamente 0,0062 Real

[2] O salário mínimo no Chile atualmente é de 320.500 pesos. Porém não existem regras rígidas a esse respeito, por isso em diversos casos os trabalhadores recebem menos que esse valor. Trabalhadores com mais de 65 anos podem receber até metade do salário mínimo, por exemplo.

[3] “Administradora de Fundos de Desemprego”.

[4] “Pequenas e médias empresas”.

[5] “Central Unitária de Trabalhadores de Chile”, a maior central sindical do país, dirigida pelo PC Chileno.

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