LÍBANO | Retornaram os protestos populares

Por: Luis Covaspublicado em 06 de abril de 2020 no jornal El Socialista Nº 459. Traduzido por: Pablo Andrada

No Líbano, as mobilizações foram retomadas a partir do final do mês de abril. Milhares de pessoas foram às ruas na capital Beirute e na cidade de Trípoli, no norte do país, em colunas de carros e motos, ao grito de “revolução”. Os manifestantes também usavam máscaras.

As manifestações populares são retomadas com força logo após um impasse devido ao aparecimento do coronavírus. A rebelião popular tinha eclodido em outubro de 2019, paralelamente às rebeliões dos povos e a juventude do Chile e do Iraque.

O surto de coronavírus tem exacerbado uma grave crise econômica e financeira que está afetando o país desde o final do ano passado e é a mais grave no Líbano desde o final de sua guerra civil, que transcorreu de 1975 a 1990.

A moeda libanesa atingiu uma nova baixa histórica em abril, sendo negociada a 4.000 libras libanesas por dólar no mercado negro, enquanto o preço oficial permaneceu em 1.507 libras.

Trípoli é a capital do norte do Líbano, onde a taxa de desemprego está entre as mais altas do país e a pobreza é generalizada.

Várias agências bancárias em Trípoli e alguns veículos da polícia foram incendiados. Diante disso, o exército libanês também tem aumentado a repressão e tem matado pelo menos um manifestante.

“É muito simples, nós só queremos pão, mas tudo foi roubado de nós”, gritava um dos jovens com as mãos repletas de pedras e o rosto coberto por uma máscara que serve para protegê-lo tanto do Covid-19 quanto do gás. Entretanto, ele lavava o rosto com água de uma mangueira, estando ainda algo enjoado devido a tanta agitação com o estômago vazio desde cedo pela celebração do Ramadã, o mês de jejum muçulmano, um dos mais austeros que vive o país.

A libra libanesa está em queda livre há duas semanas e os preços têm subido 55%, segundo dados do Ministério da Economia, empurrando quase metade dos 4,5 milhões de cidadãos para abaixo da linha de pobreza. “Trípoli tem sido histórica, política e economicamente marginalizado, por isso a pobreza afeta 60% de seus habitantes”, sustenta em conversa telefônica Adib Nehme, especialista em desenvolvimento e pobreza.  (El País, 29/4/2020)

Os bancos fecharam suas portas há pelo menos um mês e nem todos os caixas eletrônicos têm dinheiro. É por isso o ódio dos setores populares contra seus prédios.

No Líbano, a maioria dos acionistas dos bancos é formada, simultaneamente, por deputados ou ministros. Por isso, a patronal bancária mantém laços estreitos com a maioria das lideranças políticas e de todas as confissões religiosas. Incluindo o ex-primeiro-ministro Saad Hariri, deposto em outubro pelos protestos.

O retorno das mobilizações no Líbano mostra que os povos podem retomar a onda de lutas desencadeadas em 2019. Enfrentando as tentativas dos governos capitalistas e do imperialismo de que a crise do coronavírus deva ser paga pela classe trabalhadora e os setores populares.

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