Lula ganhou por pouco e as ruas comemoraram o “Fora Bolsonaro”

por UIT-QI

 

Na votação de domingo, 30 de outubro, Lula ganhou a eleição presidencial do Brasil com uma diferença mínima. Conquistou 50,9%, 60 milhões de votos, com uma diferença de dois milhões em relação a Bolsonaro. Foi uma eleição muito acirrada e polarizada. As pesquisas voltaram a falhar, já que indicavam uma diferença de 4 ou 5 por cento em favor de Lula. Diante desse resultado, milhões de trabalhadoras, trabalhadores e jovens saíram às ruas festejar massivamente na noite de domingo. Centralmente, festejavam a derrota e o fim do governo de Jair Bolsonaro, um ultradireitista, repressor, misógino, um negacionista da pandemia de Covid-19 que atacou as conquistas da classe trabalhadora brasileira.

No entanto, a nova alta votação do ultradireitista Bolsonaro voltou a evidenciar que, lamentavelmente, existe, para além do tradicional voto conservador e reacionário, uma franja da classe trabalhadora e dos setores populares que votou em Bolsonaro. Essa franja popular mantém um repúdio ao que foram os governos anteriores do PT, de Lula e Dilma Rousseff, em aliança com os setores patronais que aplicaram ajustes fiscais contra os de baixo e cometeram escândalos de corrupção. Evidentemente, o bolsonarismo consolida-se como um fenômeno político nefasto que vai subsistir na política brasileira, já que ganhou governos estaduais e elegeu as maiores bancadas para a Câmara de Deputados e Senado.

Também é lógico que na América Latina e no resto do mundo seja visto como positivo o fim de um governo de um setor da ultradireita do Brasil que tem pontos de contato com Trump nos EUA, Giorgia Meloni na Itália, Marine Le Pen na França ou o Vox na Espanha. Ou com o que representa Javier Milei na Argentina e com os setores políticos que reivindicam o pinochetismo no Chile.

Mas nada disso invalida que vejamos qual é o significado da vitória de Lula e sua aliança com o centrodireitista Alckmin para o povo trabalhador do Brasil e qual será a perspectiva a partir do momento em que assuma o novo governo de conciliação de classes. Isso também se refletiu durante toda a campanha. Lula em nenhum momento se destacou por fazer propostas a favor das reivindicações da classe trabalhadora ou por rechaçar o pagamento da dívida externa para investir em saúde e educação. Ao decorrer da campanha, inclusive, acentuou-se o pacto com setores da direita e as pautas da classe trabalhadora e dos setores populares foram renegadas. Isso ocorreu, por exemplo, com a pauta do direito ao aborto, que atualmente não existe no Brasil.

Tudo isso tem a ver com qual será a perspectiva de um governo de aliança com setores da burguesia. Nós, da UIT-QI, prognosticamos que, lamentavelmente, vão se repetir os fracassos de seus primeiros governos. Isso ficou evidenciado justamente pelo último governo do PT com um dirigente patronal como Michel Temer, que atacou as e os trabalhadores com um tarifaço do transporte em 2013, o que levou às jornadas de junho daquele ano, em que milhões foram às ruas para protestar contra o preço das passagens, repudiando as obras da Copa do Mundo de Futebol da FIFA (2014) e a corrupção. Parte desse repúdio acabou levando milhões a votarem contra o PT em 2018, o que lamentavelmente foi capitalizado por Bolsonaro.

Não queremos ser “estraga-prazeres”, mas o novo governo de Lula não irá atender às necessidades das e dos trabalhadores, pois governará com e para a burguesia. Portanto, será uma nova decepção, repetindo os fracassos dos governos capitalistas de duplo discurso, da falsa esquerda, de Maduro, Evo Morales e, nesta nova etapa, de Boric no Chile e de Petro na Colômbia.

Por isso, a Corrente Socialista de Trabalhadoras e Trabalhadores (CST), corrente radical do PSOL, seção brasileira da Unidade Internacional de Trabalhadoras e Trabalhadores – Quarta Internacional (UIT-QI), no primeiro turno, não acompanhou a decisão da maioria do PSOL de integrar a aliança eleitoral (Frente Ampla) com partidos e figuras patronais e apoiar incondicionalmente a candidatura de Lula. A CST, no primeiro turno, chamou a votar em uma candidatura independente de esquerda, Vera Lúcia, do Polo Socialista Revolucionário. E, no segundo turno, chamou a votar criticamente em Lula, a partir de uma postura independente, acompanhando milhões de trabalhadoras, trabalhadores, mulheres e jovens que queriam se livrar de Bolsonaro. Foi uma campanha pelo voto crítico, sem depositar nenhuma confiança nem expectativa no próximo governo de Lula.

Por tudo isso, nós, da CST e da UIT-QI, chamamos, em primeiro lugar, a classe trabalhadora e os setores populares do Brasil a seguir lutando por suas reivindicações. A somente confiar em sua mobilização para exigir as reivindicações imediatas, como: aumento salarial de emergência; garantia de aumento nos investimentos para saúde e educação, deixando de pagar a dívida pública; reestatização dos serviços privatizados; combate ao saque das multinacionais imperialistas, dos bancos e do agronegócio; dentre outras medidas.

Em segundo lugar, é preciso seguir lutando pela criação de uma nova alternativa de esquerda. Uma nova direção sindical e política de esquerda no Brasil. Nesse sentido, a CST vai seguir reivindicando que o PSOL volte a assumir uma posição independente diante dos governos patronais de plantão e que, portanto, não apoie e nem integre o governo de Lula-Alckmin. A CST e a UIT-QI seguirão lutando para construir uma alternativa política unitária socialista e de esquerda independente para seguir a luta pelas verdadeiras mudanças de fundo, que passam por construir um governo das e dos trabalhadores e um Brasil socialista.

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