TEXTO 1: Marx e Engels: a independência política da classe trabalhadora

João Santiago e Felipe Melo, Coordenação da CST (PA)

A classe trabalhadora – incluindo-se jovens, mulheres, negras e negros, a população LGBTQIA+ – tem enfrentado uma condição de vida mais difícil. Faltam empregos, os preços dos alimentos e dos serviços estão mais caros, os trabalhos que existem são precários; quem está empregado já não consegue manter o mesmo nível de vida. Por que estamos vivendo essa situação enquanto cresceu o número de bilionários no Brasil e no mundo?

Isso ocorre porque vivemos em uma sociedade capitalista. Karl Marx e Friedrich Engels estudaram e descobriram que, neste modelo de sociedade, uma minoria de grandes empresários enriquece às custas do trabalho da imensa maioria da população, a classe trabalhadora.

E por que estamos trazendo essa questão ao debate? Porque é devido a esse funcionamento que afirmamos a existência da “luta de classes”. Para conseguir arrancar dos patrões melhores salários, os trabalhadores têm que lutar, fazer reuniões, assembleias, passeatas, piquetes, greves e uma série de ações. O patrão só aceita ceder quando é obrigado pela luta da nossa classe. Os governos, políticos e seus partidos não são neutros: ou acabam defendendo a classe trabalhadora ou a classe dos patrões.

Desde o Manifesto Comunista (1848), Marx e Engels haviam dito que “a história de toda sociedade até hoje é a história da luta de classes” e que a sociedade burguesa não havia eliminado os antagonismos de classe, apenas os havia simplificado a tal ponto que a sociedade inteira foi se dividindo em duas grandes classes diretamente opostas entre si: a burguesia e o proletariado (1) No mesmo documento Marx e Engels definem que os proletários nada têm de seu a assegurar, sua missão é destruir todas as garantias e seguranças da propriedade privada até aqui existentes… O movimento proletário é o movimento autónomo da imensa maioria no interesse da imensa maioria… Ao traçarmos as fases mais gerais do desenvolvimento do proletariado, seguimos de perto a guerra civil mais ou menos oculta no seio da sociedade existente até ao ponto em que rebenta numa revolução aberta e o proletariado, pela derrubada violenta da burguesia, funda a sua dominação”.

Os ensinamentos das revoluções de 1848-49, que varreram toda a Europa, principalmente a França e a Alemanha, mostraram que as burguesias preferiram se aliar ao poder feudal contra o povo, o que levou essas revoluções a derrotas. A partir daí, Marx e Engels previram que o próximo embate de classe seria contra os democratas pequeno-burgueses na Alemanha e chamaram os operários a não se deixarem iludir pelo seu canto de sereia. Os operários deveriam se preparar de maneira independente com o seu próprio partido para que, quando chegasse o momento certo, lutassem para conquistar o poder político. “Mas a máxima contribuição para a vitória final será feita pelos próprios operários alemães, tomando consciência dos seus interesses de classe, ocupando o quanto antes uma posição independente de partido e impedindo que as frases hipócritas dos democratas pequeno-burgueses os afastem por um instante sequer da tarefa de organizar com toda a independência o partido do proletariado”.(2)

 Marx, Engels e a I Internacional

Após a fundação da Associação Internacional dos Trabalhadores (I Internacional), Marx foi encarregado de redigir os primeiros documentos políticos. Na Mensagem Inaugural, ao fazer uma análise da luta de classes na Europa e na Inglaterra, em particular, Marx chega à conclusão de que “os senhores da terra e os senhores do capital sempre usarão seus privilégios para a defesa e a perpetuação de seus monopólios econômicos” e que “conquistar o poder político tornou-se, portanto, o grande dever das classes trabalhadoras”. O meio para isso já estava demonstrado pelos operários da Inglaterra, da Alemanha, da Itália e da França: a organização política do partido operário (3). Igualmente, nos Estatutos Provisórios da Internacional, Marx deixou bem nítido que a classe trabalhadora só poderia confiar nas suas próprias forças: “[…] A emancipação das classes trabalhadoras tem de ser conquistada pelas próprias classes trabalhadoras.”(4).

No artigo 7 dos Estatutos Provisórios da Internacional, realizados na Conferência de Londres, em setembro de 1871, e aprovado pelo Congresso de Haia (1872), Marx diz: “Em sua luta contra o poder reunido das classes possuidoras (grandes empresários, banqueiros), o proletariado só pode se apresentar como classe quando constitui a si mesmo num partido político particular, o qual se confronta com todos os partidos precedentes formados pelas classes possuidoras. Essa unificação do proletariado em partido político é indispensável para assegurar o triunfo da revolução social e de seu fim último – a abolição das classes”(5). Essa definição ocorreu em função da necessidade da luta de classes e após a Comuna de Paris, onde a falta de um partido revolucionário fez com que a contrarrevolução triunfasse e massacrasse os comunards, além da luta contra Bakunin e os anarquistas, que negavam categoricamente a necessidade de um partido operário e pregavam a abstenção política. No documento “Crítica ao Programa de Gotha”, de 1875, Marx afirma que “…Entre a sociedade capitalista e a comunista fica o período da transformação revolucionária de uma na outra. Ao qual corresponde também um período político de transição cujo Estado não pode ser senão a ditadura revolucionária do proletariado”.

Como pudemos ver, nossos líderes históricos, Marx e Engels, combateram a ideia de que governos de conciliação entre trabalhadores e patrões pudessem ajudar os trabalhadores a superar o capitalismo.

No próximo artigo iremos debater como a II Internacional aplicou essa linha política.

 

Para saber mais:

Especial – As Internacionais operárias

http://cstpsol.com/home/index.php/2021/12/13/8936/

 

Especial – 150 anos da Comuna de Paris (1871 – 2021)

http://cstpsol.com/home/index.php/2021/05/16/especial-150-anos-da-comuna-de-paris-1871-2021/

 

(1). Karl Marx e Friedrich Engels. Manifesto do Partido Comunista. 7ª ed. Petrópolis: Vozes, 1997; págs. 66-67.

(2). Karl Marx e Friedrich Engels. Mensagem do Comitê Central à Liga dos Comunistas (março de 1850).In: Karl Marx e Friedrich Engels. Obras Escolhidas, 1. São Paulo: Editora Alfa-Omega; pág. 92.

(3). Marcelo Musto. Trabalhadores, uni-vos! Antologia Política da I Internacional. São Paulo: Boitempo, 2014, pp.98-99.

(4). Idem, pág.291.

(5). Idem, pp. 293-294.

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